Crianças entediadas são mais criativas

       Com o passar dos anos, tornou-se cada vez mais comum a busca de atividades extracurriculares pelos pais para seus filhos. Hoje em dia, a rotina de muitas crianças, além das aulas na escola, inclui atividades extras como aulas de inglês, ballet, futsal, entre outras, que acabam por ocupar grande parte da rotina dos pequenos, restando pouco tempo livre em suas agendas. O que, muitos ainda não sabem, é que os horários sempre preenchidos podem prejudicar a imaginação destas crianças. 
     Assim, a pesquisadora reconhecida na Universidade East Anglia, na Grã-Bretanha, Teresa Belton, desenvolveu uma pesquisa que a habilitou a afirmar que a expectativa cultural de que as crianças estejam sempre ativas pode atrapalhar o desenvolvimento da sua imaginação. 
Sua pesquisa conta com relatos da escritora, comediante e jornalista Meera Syal, famosa comediante da Grã-Bretanha e do artista plástico que já expôs inclusive no Museu Britânico em Londres, Graysson Perry. Syal afirmou que o tédio estimulou sua vontade de escrever enquanto Perry disse que era um estado criativo para ele. 
"A solidão imposta como uma
página em branco foi um ótimo estímulo"
afirma Syal, protagonista da pesquisa.
     Após análise das memórias de Syal, crescida numa pequena vila de mineiros, onde não havia muito o que se fazer, Belton afirmou que “A ausência de coisas pra fazer a motivou, a gastar horas do dia a falar com outras pessoas e a tentar outras atividades que em outras circunstâncias ela jamais teria experimentado, como interagir com os mais velhos e vizinhos e aprender a fazer bolos. [...] O mais importante foi que o tédio a fez escrever. Ela mantinha um diário desde pequena o qual preenchia com observações, pequenas histórias, poemas e críticas. Ela atribuiu a esta fase, seus primeiros passos como a escritora que se tornaria mais tarde.” 
     Também especialista no impacto das emoções no comportamento e aprendizado, a pesquisadora afirma que o tédio por ser um sentimento desconfortável e por isso a sociedade desenvolveu uma expectativa de ser constantemente desocupada e estimulada. Acrescentando que a criatividade envolve ser capaz de desenvolver um estímulo interno, assim, a natureza estimula um vácuo que tentamos preencher. 
     Estudos realizados sobre do impacto da televisão e vídeos na escrita das crianças, permitiram a Belton afirmar que quando os pequenos não têm nada para fazer, imediatamente voltam-se para a TV, computador, celular ou algum tipo de aparelho com tela. Mas, na verdade, as crianças precisam ter um tempo para parar e pensar, imaginando que eles possuem seus próprios processos de pensamento e assimilação, por meio de experiências com brincadeiras ou apenas observando o mundo ao seu redor. 
     O fim do estudo traz a seguinte conclusão da pesquisadora: "Para o bem da criatividade, talvez devamos diminuir nosso ritmo e ficar offline de tempos em tempos."