Éramos jovens na guerra - Livro relata experiências de jovens durante a Segunda Guerra Mundial

Capa do livro de Sarah Wallis e Svetlana
Palmer, publicado em janeiro de 2013
    Com a Segunda Guerra Mundial, o contexto de violência penetrou na consciência e nas palavras de centenas de jovens. “Éramos jovens na guerra” escrito em parceria da americana Sarah Wallis e a russa Svetlana Palmer, radicadas na Inglaterra, é o fruto de pesquisas realizadas durante dez anos, reunidas em um único volume, compostas por trechos de cartas e diários de 16 adolescentes. Às vezes, em lados opostos do evento, os jovens escrevem de maneira direta e persuasiva sobre suas impressões e pontos de vistas. 
   Os textos trazem um relato do conflito no dia a dia das pessoas, geralmente longe dos campos de batalha, apesar das visões diferentes de cada jovem, há algo em comum: medo e sofrimento. Alemães, russos, ingleses, franceses, poloneses, americanos e japoneses, ambos tiveram que lidar com violência, fome, dor, saudade e desesperança. 
   É interessante a análise dos diários de soldados, que no início, encontravam-se orgulhosos de suas fardas e armas e com o decorrer do tempo, acabam abrindo os olhos e encontrando estupidez em um confronto sem sentido.
     Dos 16 que tem seus textos inseridos no livro, apenas três dos jovens sobreviveram até o fim da guerra, o que fez com que algumas versões fossem interrompidas, ficando sem conclusão. 
   Seguem trechos de três autores que revelam o efeito da guerra sobre cada um. Enquanto Yura Ryabinkin, 15 anos, adoece, passa fome e vê sua família receber apenas uma fração diária de pão, a francesa Michele Singer, 17 anos, tem tranquilidade para admirar os soldados que entram em seu país. Vasily Baranov, de 18 anos, agredido e escravizado em um capo de concentração, relata sua experiência e emociona. 

Tão fraco que mal consigo me mexer. Mamãe diz que meu rosto começou a inchar. É tudo por causa da falta de comida. Eu não cuido muito bem de mim. Durmo vestido, lavo um pouco o rosto pela manhã, deixei de lavar as mãos com sabão, não mudo a roupa. Toda noite eu vou dormir e sonho com pão, manteiga, ervilhas e batatas. Só consigo pensar que, quando acabar a noite, daqui a 12 horas, receberei minha ração de pão. Fiquei mais fraco, minha mão treme quando escrevo. Meus joelhos estão tão fracos que eu não consigo dar um passo sem cair.
23 de outubro de 1941, YURA, 15 anos, russo.

Tem um oficialzinho italiano realmente adorável hospedado no hotel. Pensei nele a noite toda. Ainda não conversei com ele e de repente fiquei me perguntando: por que não? Eu sempre achei que meu primeiro amor seria um piloto inglês, este oferece o prazer adicional de ser uma surpresa e fazer rolar por terra todas as minhas teorias. Ele parece tão triste, com seus lindos olhos azuis. Minha imaginação desembestou, e tenho sonhado com os planos mais estapafúrdios para dar um jeito de conhecê-lo.
6 de agosto de 1943, MICHELINE, 17 anos, francesa.

Dois de nós recebemos um tapa na cara e fui me deitar rangendo os dentes de dor. Eles estão sempre rindo de nós, acham que somos sujos e incultos. O capataz espancou um sujeito porque assoou o nariz no chão. Sua risada e suas zombarias estão me matando. Estou começando a me detestar e a me perguntar se sou realmente um porco, como eles dizem. Só queria estar de volta a minha boa e velha casa, junto aos dois salgueiros e ao lindo e frondoso álamo. Nunca mais voltarei a ver minha casa, nem mesmo haverá um corvo que leve para lá os meus ossos.
5 de setembro de 1943, VASILY, 18 anos, russo.